contracena
a rasgar o vento.
E gritar
Nunca tive portas.
É estranho encontrar uma paixão pela liberdade do horizonte com a vida insistentemente presa a quatro paredes. Encontrar de repente o momento em que portas e janelas são exatamente as mesmas, ambas buracos nas paredes.
Incomodar-se repentinamente com a necessidade das quatro paredes e da contraditória necessidade de janelas. Observar atento e seguro, destemido. Todo horizonte está no sonho. Todo horizonte permanece quando não se tem portas. Permanecem onde sempre serão horizontes, por naturalmente não serem alcançados. Não há convite para entrar, nada, ninguém, apenas posso observar da janela, afinal, nunca tive portas. Toda a vida sempre permanecerá no sonho através da janela, nos buracos de minhas paredes.
Creio que não posso me perguntar o que naturalmente se perguntaria. Por que não pular as Janelas?
Porque estes são, os meus buracos...
Você me deixa olhar seus olhos
mesmo que distante
Me perder entre os relevos aveludados de sua iris
Onde estão marcadas as impressoes de seus ancestrais
Trazer a tona em minha temperatura
O sentimento na carne, pulsante
Onde o sangue se torna expressão viva de minhas palavras
Deslizar os lábios por suas costas
e sua nuca
Segurar-te por perto sem te prender
Nós dois
eu e você
tocando o silêncio
Onde nada está calado.
Onde tudo diz desnudando qualquer palavra possível
Deixando ao corpo a expressão do impossível.